Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus. 
Tempo de absoluta depuração. 
Tempo em que não se diz mais: meu amor. 
Porque o amor resultou inútil. 
E os olhos não choram. 
E as mãos tecem apenas o rude trabalho. 
E o coração está seco. 
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás. 
Ficaste sozinho, a luz apagou-se, 
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes. 
És todo certeza, já não sabes sofrer. 
E nada esperas de teus amigos. 
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice? 
Teus ombros suportam o mundo 
e ele não pesa mais que a mão de uma criança. 
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios 
provam apenas que a vida prossegue 
e nem todos se libertaram ainda. 
Alguns, achando bárbaro o espetáculo 
prefeririam os delicados morrer. 
Chegou um tempo em que não adianta morrer. 
Chegou um tempo que a vida é uma ordem. 
A vida apenas, sem mistificação.
(C.Drummond de Andrade) 
Eu assino embaixo dos versos do grande poeta. E nem ouso escrever mais nada. Perfeitos. Tempo que passa. Vida que vai. Esperança que se renova. Tempo, tempo, tempo: vida apenas?
Tenham todos uma ótima semana!
beijos,
Tina