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Eu vivo isso, e achei esse texto perfeito. Mãe e filha. Vida da vida. Sem encontro.
"Durante a vida intra-uterina, o
nosso cérebro se forma cercado de uma sensação de aconchego, paz e
harmonia. Vivemos no paraíso – e o nascimento corresponde a sermos
expulsos dele. A partir daí, passamos a experimentar aqueles que talvez
sejam os piores tempos da nossa vida: temos frio, fome e sede; nos
sentimos desamparados, realmente desesperados, quando não somos
atendidos imediatamente por nossas mães.
A hipótese que tenho defendido a respeito da origem do amor é a de que
resta em todos nós uma espécie de “nostalgia” daquela sensação que
experimentamos durante a “fusão” uterina. Desejamos retornar a esta
situação, agora no sentido figurado.
Nossas primeiras experiências de união
romântica são, de novo, com nossa mãe, aquela que nos nutre, cuida de
nós e nos dá serenidade com sua presença. A recíproca é verdadeira: ela
também experimenta uma forte sensação de algo completo durante a
gestação. E, desde o nascimento, temos um persistente sentimento de
vazio interior. É como se, ao nascer, deixássemos para trás um pedaço de
nós mesmos. Assim, a solidão é a falta de algo que nos foi tirado – e
por isso buscamos uma parceria amorosa. Se nos sentíssemos completos, o
amor não existiria.
Ora, nossas mães também se sentem
incompletas. Na gravidez, elas se apegam a nós como remédio para o vazio
que sentem. Ao nascer, trazemos de volta essa sensação, que às vezes é
responsável por fortes depressões, tão comuns nesse período.
Em princípio, mãe e filho se amam: estão
unidos por um tipo de aliança incondicional, que não depende das
peculiaridades da personalidade dos envolvidos. Com o passar dos anos e o
desenvolvimento da razão, os processos que nos ligam deixam de ser
exclusivamente físicos e passam também pelo crivo da nossa reflexão.
Pode ocorrer de um filho descobrir características muito desagradáveis –
sob o seu ponto de vista – no modo de ser da mãe. Ou o contrário: a mãe
vê seu filho amado se tornar uma criatura muito diferente do que ela
esperava que fosse.
Ambos os processos são bastante
frequentes. Poderíamos presumir, então, que a maioria dos filhos deixa
de amar suas mães e vice-versa? Essa visão não corresponde aos fatos.
Pelo que nossas mães representam, nos inclinamos para a condescendência:
somos mais compreensivos e tolerantes com elas. Da mesma forma, a mãe
tende a minimizar os defeitos do filho.
Em alguns casos, não somos capazes de amar nossas mães – ou nossos filhos – nem mesmo levando em conta esta parcialidade.
Quando as diferenças no modo de ser, de
pensar e de agir são muito grandes, não há como negar que aquela pessoa,
um dia tão importante para nós, agora provoca revolta, ressentimento e,
por vezes, repulsa. Isso é errado? Seria um sinal de fraqueza de quem
não consegue amar a mãe – ou o filho? Certamente não. Isso significa que
as diferenças se tornaram tão fortes que nem mesmo toda a tolerância em
relação aos nossos elos originais foi suficiente para manter acesa a
chama do amor."
É triste, mas existe. Eu vivo isso. Sofro isso também.
Beijos.
Tina