Monday, April 05, 2010

Tempos modernos

Monday, April 05, 2010


"Sou do tempo em que ainda se faziam visitas. Lembro-me de minha mãe mandando a gente caprichar no banho porque a família toda iria visitar algum conhecido. Íamos todos juntos, família grande, todo mundo a pé. Geralmente, à noite.

Ninguém avisava nada, o costume era chegar de pára-quedas mesmo. E os donos da casa recebiam alegres a visita. Aos poucos, os moradores iam se apresentando, um por um.

– Olha o compadre aqui, garoto! Cumprimenta a comadre. E o garoto apertava a mão do meu pai, da minha mãe, a minha mão e a mão dos meus irmãos. Aí chegava outro menino. Repetia-se toda a diplomacia.

– Mas vamos nos assentar, gente. Que surpresa agradável! A conversa rolava solta na sala. Meu pai conversando com o compadre e minha mãe de papo com a comadre. Eu e meus irmãos ficávamos assentados todos num mesmo sofá, entreolhando- nos e olhando a casa do tal compadre.

Retratos na parede, duas imagens de santos numa cantoneira, flores na mesinha de centro... casa singela e acolhedora. A nossa também era assim. Também eram assim as visitas, singelas e acolhedoras. Tão acolhedoras que era também costume servir um bom café aos visitantes. Como um anjo benfazejo, surgia alguém lá da cozinha – geralmente uma das filhas – e dizia:

– Gente, vem aqui pra dentro que o café está na mesa. Tratava-se de uma metonímia gastronômica. O café era apenas uma parte: pães, bolo, broas, queijo fresco, manteiga, biscoitos, leite... tudo sobre a mesa. Juntava todo mundo e as piadas pipocavam. As gargalhadas também.

Pra que televisão? Pra que rua? Pra que droga? A vida estava ali, no riso, no café, na conversa, no abraço, na esperança... Era a vida respingando eternidade nos momentos que acabam.... era a vida transbordando simplicidade, alegria e amizade...

Quando saíamos, os donos da casa ficavam à porta até que virássemos a esquina. Ainda nos acenávamos. E voltávamos para casa, caminhada muitas vezes longa, sem carro, mas com o coração aquecido pela ternura e pela acolhida.

Era assim também lá em casa. Recebíamos as visitas com o coração em festa.. A mesma alegria se repetia. Quando iam embora, também ficávamos, a família toda, à porta. Olhávamos, olhávamos... até que sumissem no horizonte da noite.

O tempo passou e me formei em solidão. Tive bons professores: televisão, vídeo, DVD, e-mail... Cada um na sua e ninguém na de ninguém. Não se recebe mais em casa. Agora a gente combina encontros com os amigos fora de casa:

– Vamos marcar uma saída!... – ninguém quer entrar mais. Assim, as casas vão se transformando em túmulos sem epitáfios, que escondem mortos anônimos e possibilidades enterradas. Cemitério urbano, onde perambulam zumbis e fantasmas mais assustados que assustadores.

Casas trancadas.. Pra que abrir? O ladrão pode entrar e roubar a lembrança do café, dos pães, do bolo, das broas, do queijo fresco, da manteiga, dos biscoitos do leite... Que saudade do compadre e da comadre!"

Texto de José A. Oliveira Resende - UFSJDR / MG


Eu vivi esse tempo enquanto criança, era bom mesmo. Faz falta nesses "tempos modernos "que ora vivemos onde sobra tecnologia para agilizar a vida e ainda assim nos falta tempo.

Onde terá ido aquele "aparece em casa para a gente tomar um café "... ? Fica a pergunta, cheia de nostalgia.


beijos e boa semana a todos,

Tina

9 comments:

  1. Oi....Tudo bem???
    Tenha uma linda semana!!!
    Que o amor de Deus esteja em seu blog todos os dias.

    Grande abraço!!!

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  2. Então tem tudo a ver: estou fazendo uma visita "virtual"!!! rsrs

    Um beijão.

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  3. Tinavózinhamada,
    estou esperando que volte pra aquele café com bolo e muita conversa jogada meio a risadas e banhada de choro, afinal somos exageradérrimas nos sentimentos, né?
    Eu lembro bem, quando "me colocavam" sapatinho de verniz que rangia além de fazer bolhas doloridas nos pés, e saímos andando pelas ruas de lâmpadas amarelas e fracas, rumo à casa de parentes e amigos, sendo recebidos de forma calorosamente carinhosa.
    Tô esperando seu e-mail, quero saber pq não voltou ainda, rsss
    beijos de loviú em todos, especial no Nic e no Greg.

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  4. eu tb. sou do mesmo tempo que o seu...
    lembro q na volta pra casa, eu ganhava o colo do meu pai...
    bj

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  5. Bonito o texto do José, querida, mas penso que isso acontece, de nossas casas virarem 'túmulos' porque se tornou o único recanto onde podemos ser nós mesmos, onde podemos nos resguardar, a vida 'muderna' acabou com nossa privacidade, então, temos em nosso lar o único cais........

    beijocas

    MM.

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  6. Anonymous8:24 PM

    Pois é. Sempre diziam dos cariocas, que quando falavam "aparece la em casa" era para nao aparecerm era so uma formalidade. Maior mentira. A coisa mais gostosa do Rio para mim sempre foi visitar os amigos.
    Beijos querida e aparece um dia aqui em casa,
    Cam

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  7. tb peguei um pouco disso..bom demais.
    lá em Cabo Frio então, q só nos viamos nas férias e feriados..era mta visita e mto papo...


    /(,")\\
    ./_\\. Beijossssssssss
    _| |_................

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  8. Podes crer que é verdade... éramos MTOO mais felizes... eu adorava passear e eu lembro q íamos mto mais a casa dos amigos que hj em dia!!!

    Tem meme p vc
    Beijos saltitantes

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  9. oi, pouco lembro da minha infância, mas, hoje é extranho quando ouso uma pessoa dizer vai lá em casa e esquece que nunca passou o endereço pois, esta tão habituado a conversar via gtalk ou msn, que imagina que a criatura já possui o endereço residencial. Isto é ilário.
    Bjs. Bom inicio de semana.

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Obrigada pela sua visita!

 
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